“Take care of the sounds and the sense will take care of itself”
Lewis Carroll
Devido às diferenças entre as duas línguas envolvidas, toda tradução implica perdas e ganhos; não é possível recuperar todos os aspectos e dimensões do texto original. É preciso escolher. Uma tradução que preservasse todos os aspectos do original não seria uma tradução, e sim uma cópia!
Um tradutor que considere a tradução principalmente como uma transferência de conteúdo não dará igual importância a outros aspectos — como, por exemplo, a sonoridade. Outro tradutor pode escolher privilegiar o aspecto sonoro e não dar tanta importância ao sentido. Existem, é claro, muitas outras escolhas possíveis, mas hoje vou me concentrar em uma radicalização desta segunda opção: as traduções ditas “miméticas”.
A tradução mimética privilegia os elementos gráficos e fonéticos de um texto, em detrimento das relações semânticas. As traduções homofônicas de Catulo feitas por Celia e Louis Zukovsky, por exemplo, procuram reproduzir o som, ritmo e sintaxe de Catulo. Os primeiros versos de Catulo 32 — um poema dedicado à amante do poeta, Ipsitilla — dizem:
Amabo, mea dulcis Ipsitilla, | Os Zukovsky traduzem: I'm a bow, my dual kiss, Ipsitilla |
A tradução literal para o inglês seria: Please, my sweet Ipsitilla | Tradução literal para o português: |
Outro exemplo são as Mots D'Heures: Gousses, Rames (Mother Goose’s Rhymes) de Luis d'Antin van Rooten. Publicadas como uma coleção de poemas escritos em francês arcaico, esses poemas são, na verdade, traduções miméticas de nursery rhymes inglesas. Transcrevo aqui, como exemplo, a tradução do conhecido “Humpty Dumpty”:
Humpty Dumpty | Un petit d'un petit |
(Agradeço ao meu amigo Guian por ter-me chamado a atenção para essas deliciosas traduções de Rooten.)
Obviamente, essas são traduções extremamente radicais. Mas, além de divertidas, elas não são totalmente “nonsense”, e podem conter “pistas” sobre como aproveitar melhor todos os elementos envolvidos em um texto poético.
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