sexta-feira, 27 de abril de 2012

Mickle, Dr. Johnson, Patronato (I)

(Já comentei anteriormente, neste mesmo blog, a respeito do patronato (ou patronagem), ao falar sobre Lefevere, aqui.)

William Julius Mickle nasceu em 1735 em Langholm, Dumfriesshire. Era filho de um pastor da igreja escocesa que, ao morrer, lhe legou uma… fábrica de cerveja. Mas Mickle não levava jeito para a administração de negócios, e a cervejaria acabou falindo. Mudou-se então para Londres para tentar ganhar a vida como poeta e escritor.

Em 1762, quando Mickle se mudou para Londres, obter o patrocínio de algum aristocrata era o caminho “natural” para um escritor ser bem-sucedido no sistema literário. Mickle se deu muito mal nesse aspecto… Mas ele conseguiu, pelo menos, ficar amigo de intelectuais influentes, como o célebre Samuel Johnson, renomado escritor e autor de um dicionário de inglês que, durante 150 anos, até o lançamento do Oxford English Dictionary, foi considerado o principal dicionário da língua inglesa.

Otto Maria Carpeaux, em sua monumental História da Literatura Ocidental, diz, a respeito do prefácio do dicionário de Johnson:
O mais famoso prefácio-desafio, é, porém, o do Dr. Samuel Johnson para seu Dicionário de 1755. Todo mundo esperava dedicatória dessa obra a Lorde Chesterfield, o grande mecenas, do qual ninguém sabia que tinha tratado de lacaio o erudito lexicógrafo. Em vez da dedicatória escreveu Johnson um prefácio em que descreveu, de maneira emocionante, sua pobreza, suas atribulações, e declarou não dever nada ao Lorde e aos grandes, nem sequer uma dedicatória. Esse prefácio é um documento histórico. É de 1755. Significa o fim da época em que os literatos viviam da ajuda dos grandes senhores. É o começo da era burguesa: em vez dos grandes senhores, o grande público.
Johnson escreveu ainda uma carta para o Lorde Chesterfield que, ainda de acordo com Carpeaux, é a “Declaração de Independência da literatura”.

Mickle viveu, portanto, nesse interessante momento de transição entre o domínio aristocrático e o burguês. Para conhecer melhor a vida cultural da época, estou lendo a biografia do Dr. Johnson, Life of Johnson, escrita por James Boswell. Atenção: são 1496 páginas!!! Postarei alguns comentários sobre esse livro (dando, inclusive, mais detalhes sobre a carta ao Lorde Chesterfield), ao longo dos próximos dias.

(Não tem muito a ver com o meu tema específico, mas alguns de vocês talvez se lembrem da sátira de Blackadder ao dicionário do Dr. Johnson, Ink and Incapability, engraçadíssima.)

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