sábado, 28 de abril de 2012

Mickle, Dr. Johnson, Patronato (II): Dr. Johnson e os patronos (continuação da post anterior)

Pelo que tenho lido até agora em Life of Johnson, a imagem de Carpeaux, da carta de Johnson a Lorde Chesterfield como a “Declaração de Independência da literatura” é um tanto exagerada. As coisas não mudaram assim, da noite para o dia. É verdade que Johnson conseguiu publicar várias obras sem patrocínio de aristocratas, mas ele estava sempre buscando esse patrocínio.

No início de sua vida de escritor, Johnson sofreu muito com a dificuldade de encontrar patrocínio. Citando Boswell em Life of Johnson, p. 81, em tradução minha, sobre a tragédia Irene, de Johnson:

Fleetwood não quis aceitá-la, provavelmente porque ela não tinha o patrocínio de nenhuma figura proeminente; e só foi representada em 1749, quando seu amigo David Garrick virou administrador daquele teatro.

A seguir, na p. 91, sobre o poema London, escrito em 1738:

Geralmente se diz, não sei com que grau de verdade, que Johnson ofereceu London a vários livreiros e que nenhum deles quis comprá-lo. Mr. Derrick alude a esse fato nos seguintes versos de sua Fortune, a Rhapsody:

Will no kind patron JOHNSON own?
Shall JOHNSON friendless range the town?
And every publisher refuse
The offspring of his happy Muse?

A história da carta a Lorde Chesterfield é a seguinte: quando Johnson resolveu escrever seu dicionário, enviou a Lorde Chesterfield, um dos principais secretários de Estado do rei, o projeto de criação do dicionário. Lorde Chesterfield se expressou de modo muito favorável em relação ao projeto, mas nunca fez nada para dar apoio à sua realização. Quando, depois de nove anos de muito trabalho, Johnson estava prestes a publicar o Dicionário, Lorde Chesterfield, que esperava que Johnson fosse lhe dedicar a obra, escreveu dois artigos de elogios ao Dicionário no The World, um periódico londrino da época. Foi então que Johnson redigiu a célebre carta a Lorde Chesterfield, que vocês podem ler na íntegra aqui, em inglês, e da qual traduzo em seguida alguns trechos:

Sete anos se passaram, meu senhor, desde o tempo em que ficava esperando em sua antessala ou via suas portas me serem cerradas; durante esse tempo, continuei meu trabalho, apesar das dificuldades, das quais seria inútil me lamentar agora, até, finalmente, tê-lo concluído para a publicação, sem o menor gesto de ajuda, palavra de encorajamento, ou sorriso de aprovação. Tal tratamento eu não esperava, pois eu jamais havia tido um patrono. […]

Não é um patrono, meu senhor, alguém que olha com indiferença para um homem que se debate dentro da água e, quando este consegue chegar à terra, cumula-o de ajuda? […]

Espero que não seja uma grosseria por demais impudente não reconhecer obrigações quando nenhum benefício foi recebido, ou não desejar que o público considere que devo a um patrono algo que a Providência me possibilitou fazer por mim mesmo.

Lorde Chesterfield não respondeu à carta nem se manifestou publicamente a seu respeito.

Mesmo depois da carta a Lorde Chesterfield e do prefácio ao dicionário, Johnson continuou à procura de patronos. Na p. 216 de Life of Johnson, Boswell conta que, em 1756, Johnson descobriu que, apesar da grande fama de seu Dicionário, ele ainda precisava ganhar o pão de cada dia. Diz Boswell: “Nenhum patrono da realeza ou nobreza estendia uma generosa mão para dar independência ao homem que havia conferido estabilidade à língua de seu país”.

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